«A SAGRADA FAMÍLIA»: RELATÓRIO DE PRODUÇÃO

 

Publicamos seguidamente o relatório de Henrique Espírito Santo relativo à produção do filme. Este relatório foi-nos enviado pela Direcção do Centro Português de Cinema, sendo portador João César Monteiro.

 

«A SAGRADA FAMÍLIA», 16 m/m PB Som síncrono, Longa metragem

Orçamento:      240 OOO$OO

Preparação: 25/5 a 15/6/72

1.° período de rodagem: 17,18 e 19/6/72

 

Interior e exterior

 

Segundo a ideia inicial do realizador foi cumprida a l.ª parte do filme. Restava  l dia de exterior numa praia (COR).

O negativo impressionado é entregue no dia 21/6/72 na Ulyssea. Três semanas depois,  por avaria  duma máquina, ainda não tinha sido revelado o trabalho. Por este motivo é retirado o negativo da Ulyssea para a Tobis. A Tobis executa prontamente o trabalho.

A impaciência é geral e na projecção o realizador acha que o material se apresenta com graves deficiências de laboratório, às quais acrescenta «erros» de foto grafia e reconhece também «erros» próprios de realização.

Impõe-se a repetição dalguns planos.

Passa algum tempo (dificuldade em reunir, de novo, os elementos da equipa, que entretanto se ocuparam doutros  trabalhos;  dificuldade também em voltar a utilizar a casa que tinha sido cedida para o efeito — é sabido o incómodo ocasionado por filmagens em casas particulares!).

O  realizador  pensa  (tem tempo) em introduzir «novos» planos, que acrescenta às repetições previstas. Aqui, levanta-se o problema de mais encargos: impaciência, confusão, discussão!

Finalmente  em  11/12/72 retomam-se os trabalhos.

Sai mal o «2.° nu», a «2.ª escadaria» e a «1.ª dança» (este plano filmado no CPC).

Em 8/1/73 repete-se a «dança» (CPC) e a «escadaria».

Sai mal a «3." escadaria» mas salva-se a «2." dança».

São novamente interrompidas  as filmagens:  impaciência, confusão, discussão!

O realizador não quer entender os «problemas» do CPC...

Mas em 26/2/73 a equipa arranca, agora para a Arrábida.  Finalidade:  substituir  totalmente a «escadaria» por uma «gruta» e fazer um «3.° nu», além da introdução de  «novos»  planos,  porque  o realizador  continua  a  ter tempo para repensar o filme e dar-lhe «uma volta».

Para estas filmagens movimentou-se mais gente, mais  material  (incluindo charriot),  mais  adereços  e efeitos especiais.

Sai  mal  a  «gruta»,  não apareceu o modelo para o «nu» contactado pelo realizador, mas sacou-se um belo plano duma laranja em cima duma mesa.

Tenta-se remediar no dia seguinte;  um  novo  plano, «Maria da Fonte», que sai péssimo!

Nova paragem. A situação é  escaldante.  O  realizador quer  «sair  do  país»  mas saem antes dois artigos no &  etc  (data:  28/2/73).

Em que ficamos?

A Direcção passa na móviola o material montado.

Dessa  visão  concluíram que se trata

dum excelente filme

com boa fotografia

com bom som síncrono (!!)

e bom trabalho de laboratório.

 

Faltam ainda 2 planos: O «nu» e a «Maria da Fonte». Amanhã, dia 31, esperamos terminar. Já não há «nu» mas ureia nova ideia do realizador.

Gasto até esta data:  140 OOO$OO.

Quando sair a cópia síncrona será ultrapassada a barreira dos 200 contos. Claro  que  até  é  barato.  No entanto, foi eliminada a parte  de  COR,  alguns  actores trabalharam de graça e outros quase. E a equipa foi mesmo «mini».

É um filme fora das normas habituais de produção.

Se não fosse a falta de «massas» que por vezes se fez sentir e a circunstância do realizador perder a calma por pensar injustamente que a Direcção do CPC não queria terminar o filme, o filme tinha sido em tempo de filmagens, acabamento e gastos,  um  «record».  Além disso o realizador teria mantido o  anonimato pois,  segundo a sua ideia, não há genérico (apenas o título).

Assim toda a gente «culta» saberá que o César fez «A Sagrada Família», sozinho,  contra  todos,  através do & etc.

Mas parabéns pelo filme.

   Henrique Espírito Santo

 Publicado no & etc, a 30 de Abril de 1973